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terça-feira, 19 de março de 2013

Para refletir: Alô, sim estou disponível!

Recentemente estive em uma padaria, dessas sofisticadas que atualmente estão em alta. A padaria é linda, tem uma decoração belíssima, o som é divino e os produtos excelentes, uma unanimidade aqui em BH. E eu lá, sentada à mesa, tomando um suco de laranja e aguardando minha baguette francesa. Nisso, adentra uma senhora distinta e elegante, que se dirige ao balcão de pães, bolos e outras guloseimas deliciosas e inicia seu pedido para a atendente, caprichosamente vestida. Neste momento, seu aparelho celular toca, mais alto que o som ambiente, ela o atende e começa a conversar com quem a interrompeu, a atendente recua e aguarda.

Esta situação é vivida por muitas pessoas constantemente, nas calçadas, nos restaurantes, nos veículos automotivos, nos ambientes profissionais, nas férias, nos cinemas, nas festas, em qualquer lugar que tenha cobertura de telefonia móvel. Minha intenção, não é questionar a urgência da ligação, seja ela do trabalho, do filho, da mãe, etc., mas sim pensar no ato de excluir-se do ambiente, por aquele tempo desviado. Sei que as razões para optar por essa disponibilidade imediata são muitas e de importância, mas este hábito traz consequências à nossa vida.

Quando penso em algum profissional atendendo uma ligação na calçada ou dentro de um shopping, me vem à cena de um homem andando de um lado para o outro, gesticulando e falando em tom de vós firme com quem o chamou na ligação, passando a mão na cabeça, indo e vindo sem perceber nada do que está a sua volta, ele é tragado pelo aparelho celular. Se penso em um lar, vejo uma mãe (poderia ser uma babá, uma tia, um irmão) estendendo uma mão, em sinal de pare, para um dos filhos que deseja lhe mostrar o retrato dela desenhado em rabiscos ou em outra cena, robotizadamente ela alimenta um filho pequeno sem permitir que o mesmo experimente os diferentes sabores e as texturas do seu alimento, basta que viva a pressa e ausência da mãe.
Fonte - Imagem: http://blog.citycall.es

Por outro lado, lembro-me de certa vez, quando fiz uma visita a uma mamãe recém chegada da maternidade, durante a amamentação era proibido fazer uso de telefones, a atenção era integral para o bebê. Assim como deve ser ao dirigir ou deveria ser no cinema, no teatro. Parece-me que a liberdade, a integração, a autonomia são perdidas. Na verdade abrimos mão disso para sermos acessados em qualquer lugar, a qualquer momento, talvez por qualquer um. Sofre-se uma perda impalpável, uma exclusão temporária, uma subtração do aqui e do agora.

Será que esta disponibilidade é sempre positiva? Isso me fez pensar nas crianças e jovens que estudam sobre os livros, em frente ao computador com o bate-papo ativo, ao som do music player e com a televisão ligada. A multitarefa, a coexistência, tudo ao mesmo tempo, sempre...dá certo? É certo? O tempo todo?

Eu, pelo menos, estava sem celular na padaria, acreditava que nada que tivesse de acontecer seria impedido pela minha resposta a uma ligação telefônica, absolutamente nada. Vi também que na mesa ao lado, onde havia duas senhoras, o celular de uma delas tocou duas vezes, ela conferiu e não o atendeu, mas mudou de posição na sua cadeira. É desconfortável escutar um telefone tocando sem que ninguém atenda não é mesmo? Tê-lo vibrando no bolso por causa de uma mensagem então...perturbador, é a própria tentação...rsrsrs. Somos sugestionados num ciclo vicioso e incorporamos as pessoas que nos cercam a ele. Somos?

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